FragmentadoO diretor M. Night Shyamalan, que experimentou um sucesso estrondoso com O Sexto Sentido (The Sixth Sense, U.S.A.,1999) e algumas críticas não tão excepcionais em seus outros filmes, volta finalmente à cadeira de direção com seu novo longa Fragmentado (Split, U.S.A., 2017). Conforme contou na coletiva quando esteve em São Paulo, ele nos contou que sempre foi interessado no assunto desde que cursou uma cadeira de Psicologia na faculdade e ao mesmo tempo, “perseguia” sua atual esposa fazendo as mesmas aulas que ela. Com um diretor tão interessado no tema, um ator que sempre quis fazer uma personagem dessas e mais uma equipe de psicólogos de plantão,  
Shyamalan entrega um filme absolutamente bem trabalhado sobre o Transtorno Dissociativo de Personalidades, comumente conhecido como Múltiplas Personalidades. O fantástico ator, James McAvoy estrela nos “papéis principais” e ouso dizer que poucos atores aguentariam o peso do papel. Aliás, aproveito e já começo minha campanha para que leve a estatueta de melhor ator no 90º Academy Awards.

Shyamalan - FragmentadoO filme, que conta a história de três amigas Anya Taylor-Joy (A Bruxa), Haley Lu Richardson (Quase 18) e Jessica Sula (da série britânica Skins) sequestradas por uma das personalidades de Kevin e presas em um porão, sem entender o que está acontecendo, ou seja, especialmente porque McAvoy cada hora é de um jeito, causa arrepios. E nós sabemos que a sua pior faceta ainda está para nascer, a própria chamada do filme avisa que existe uma 24ª personalidade chegando, e só uma questão de tempo para isso.

Falando um pouco sobre a doença de Kevin, que já foi retratada em outros filmes e séries*, uma das características comuns nos retratos audiovisuais é que conforme mais personalidades vão surgindo, as mais “fracas” são muitas vezes dominadas e perdem inclusive o direito de aparecer, passando a existir somente internamente. A atuação é envolvente e o cuidado com o gesticular, com as roupas, com a forma de falar de cada uma de suas personas, faz com que você queira conhecer ainda mais as outras personalidades que aquele corpo abriga. Mas o tempo é o maior inimigo de todos, inclusive aqui, do filme.

McAvoy - FragmentadoComo o tempo do filme é limitado, o trabalho de Shyamalan e McAvoy em construir e mostrar não só a história de Kevin, apresentá-la de forma que você acredite nela, e no meio disso reconstruir a fama para um diretor que é super dedicado e acredita em seus projetos, mas andou deixando a desejar para muitos críticos e seu público, torna tudo ainda mais difícil. Entretanto a química do diretor e do ator é tão incrível que podemos chegar a dizer que talvez um conseguiu complementar muito bem o outro e o resultado final é bem sucedido. Sem McAvoy, Shayalaman jamais conseguiria criar um Kevin real, crível, e provavelmente acabaria com mais uma bomba na mão.

Recomendo o filme e espero que seja a volta de um diretor que parece amar tanto o que faz. Para não dizer que o filme é perfeito, talvez eu fizesse algumas escolhas mais sutis que Shyamalan, mas nada que prejudique o filme.E McAvoy, se eu já te amava como ator, você acabou de ganhar inteiramente meu coração. Aliás, você e suas 24 personalidades! McAvoy para melhor ator em 2018!

Ah, fiquem para a cena pós-créditos!

PS: Algumas pessoas falaram comigo que estavam com medo de ver o filme. Sim, o Shyamalan no passado trabalhou com fantasmas e outros tipos de monstros, mas não é o caso deste filme. Sem dar grandes spoiler, o monstro aqui é a doença de Kevin e como a humanidade age, afinal, a maior parte das pessoas que desenvolvem essa doença passaram por algum tipo de experiência traumática.

Enquanto não posto a entrevista com o Shyamalan e as pesquisas que fiz, fica a pergunta: quem é o monstro? Alguma personalidade de Kevin ou a pessoa que o traumatizou em primeiro lugar?

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